segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Abordagens policiais

RESULTADO PARCIAL DE UMA PESQUISA EM ANDAMENTO Não é impossível, para uma rapaz negro da periferia, conseguir ser abordado pela PM e sair vivo, incólume, do ponto de vista de agressões físicas. De acordo com minhas pesquisas de campo, com ajuda de colegas, a maioria relata que conseguiu se sair relativamente bem de uma abordagem. Contudo, é um lance que confirma a regra. Para um rapaz negro da periferia, sem antecedentes criminais, conseguir sair de uma abordagem policial sem ser fisicamente agredido, ele precisa ter, além de sorte, ou seja, de não dar de cara com uma minoria de PMs, uma minoria surtada (adoecida sem chances de receber atenção que deveria receber), que atrapalha até o serviço dos colegas de farda, pois está fora de si, mas é uma minoria, precisa também ser muito "respeitoso", ou seja, não escorregar na laranja, não ser "inchador", seguir o ritual de poder, de subalternidade, de saber ser abordado. De dez, seis conseguem se sair bem nesse teatro diante da autoridade. Quatro, ou pisam na bola, fazendo algo que é considerado coisa de "inchador", ou estavam marcados para apanhar, ou não tiveram sorte e pegaram um "doido". Esse resultado não pode ser generalizado, é baseado numa pesquisa empírica que fiz bastante restrita com 24 jovens apenas. Mas o dado é que 60 a 70% relatam que escaparam de agressão física e 40 a 30% relatam que foram fisicamente agredidos. Já moralmente, cerca de 90% relatam que foram agredidos, com gritos, ameaças e outras coisas do tipo para impor medo, autoridade etc. Os Pms me relatam que é uma estratégia que eles chamam de agir com energia. Uma ordem que é verbal, para sentir quem manda. Muitos Pms são contra a agressão física, mesmo quando concordam com a firmeza na voz de comando, pois segundo os Pms, podem estar diante de alguém armado e podem morrer, é uma situação delicada. Mesmo que apenas no início da abordagem, com o famoso "vagabundo", e há casos em que o PM, depois de ter chamado de "vagabundo", no início da abordagem, sem agredir fisicamente, ao final da abordagem, diz "boa noite, cidadão. estamos fazendo assim pra proteger". Como se fosse uma desculpa. Interessante, né? E ela é aceita pela maioria como normal. Outra coisa interessante é que há elogios a certas equipes de PMs, os próprios jovens elogiam, dizendo que tais e tais grupos sabem fazer a abordagem corretamente. Isso me chamou a atenção também. A maioria dos jovens diz que foi abordada corretamente. Mas que 30 a 40% digam que não foram, isso talvez seja muito alto, não? Vou buscar parâmetros de outros lugares para comparar. Aceito sugestões e críticas. Estou tentando descrever de acordo com a pesquisa. Mas é um tema muito polêmico. Difícil de ser descrito.