quarta-feira, 8 de maio de 2013

Ponto de vista - Jornal O POVO

O Jornal O POVO (CE) publicou uma reportagem, a partir de dados da Perícia Forense, revelando que, nos quatro primeiros meses de 2013, 873 pessoas foram mortas a bala na Região Metropolitana de Fortaleza.
O texto abaixo é a versão expandida do meu ponto de vista sobre o fenômeno publicado na edição de hoje do jornal:

A primeira dificuldade em tratar deste assunto diz respeito aos números contraditórios sobre os homicídios no Ceará. Os dados informados pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social no início do ano ao Jornal OPOVO divergem dos registros da Perícia Forense. O que se tem de concreto é que, em 2012, 5195 corpos deram entrada naquele órgão. A partir daí, as estatísticas não mais se encontram. Esse é um problema crônico que parece não ter solução a médio prazo. Embora conflitantes, os dois dados apontam para uma mesma realidade: a crescente alta na quantidade de homicídios.
As causas para o crescimento no número de homicídios são um campo permanente de disputa. De um lado, há os que culpam o tráfico de drogas pelo número elevado de mortes. De outro, há quem veja a disseminação do uso e o comércio ilegal de armas de fogo como fatores determinantes para que conflitos interpessoais sejam resolvidos da maneira mais drástica. Os números mostram que as medidas adotadas pelos órgãos de segurança não estão sendo capazes de dar conta de nenhuma dessas duas explicações.
Várias justificativas podem ser apontadas para que o número de mortes só aumente, mas a que julgo primordial é a ausência do problema na agenda prioritária do Governo do Estado. Não se dá a atenção devida ao assunto, muito menos se empregam os recursos necessários para tentar resolvê-lo. Para comprovar essa afirmação, basta conversar com algum inspetor da Polícia Civil.
Responsabilizar somente o Estado, no entanto, é uma estratégia fácil e cômoda. Por se concentrar em áreas específicas, os homicídios não conseguem se tornar uma pauta de reivindicação dos segmentos mais amplos da sociedade. Quem tem de conviver com esse drama geralmente não possui meios de mobilizar a atenção da imprensa e do governo para sua defesa. O repúdio da população para qualquer perda de vida humana é essencial para que essa situação seja mudada. Temos de nos indignar não somente com a perda dos nossos, mas com a morte de quem se encontra nos territórios de exceção espalhados pela Capital.
Em sua tese sobre homicídios em São Paulo, Bruno Paes Manso dá um exemplo sobre como a violência se propaga: “Tolerância aos homicídios, corpos nas ruas, medo da morte violenta, excesso de armas são indutores de novas escolhas assassinas nos territórios onde os homicídios ocorrem e vizinhos matam vizinhos”. A superação desse cenário que estimula a prática do homicídio passa pela quebra desse ciclo de assassinatos e por uma cultura de resolução de conflitos que não recorra à eliminação do Outro.

Links sobre o assunto:
http://www.opovo.com.br/app/opovo/cotidiano/2013/05/07/noticiasjornalcotidiano,3051769/873-assassinados-a-tiros-em-2013.shtml

http://www.opovo.com.br/app/opovo/cotidiano/2013/05/08/noticiasjornalcotidiano,3052350/fortaleza-pede-socorro.shtml

http://www.opovo.com.br/app/opovo/cotidiano/2013/05/08/noticiasjornalcotidiano,3052352/ponto-de-vista.shtml